terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Carnavalizar


“...vamos para a avenida desfilar a vida, carnavalizar”
Marisa Monte

Ouvi esta frase cantada em uma música esta semana e me peguei a pensar sobre o momento, o famoso Carnaval. Esperado por muitos, odiado por outros. Festa impressa na cultura brasileira, e no imaginário popular. Cores, sons e melodias batucando dias e dias sem parar, com todos dizendo: “aí se vê a alegria e diversão sem parar!”. Porém, também pensamos às vezes, que bom seria se não fosse tão carregado de escrachos morais e ressacas sociais de um povo acostumado a cultuar a carne com todo o seu empenho.  Alguns pensam na abolição do carnaval, para estes são festas e manifestações demais para uma só data. O brasileiro que encontrou uma religião, pensa somente na grande afronta e insanidade espiritual que é o carnaval. Mas, e aquele que encontrou Jesus e não somente uma bandeira de “Ordem e Progresso”? O que pensa? O que vê? O que espera deste momento?

 Pensemos de vários pontos de vista, com a ajuda da Parábola do Filho Pródigo. Ela me ajuda a rever meus conceitos sobre a ilusão maquiada do pecado e a ilusão santificada da religião. Muitos gastam toda a herança mensal salarial, e ajuntando todas suas coisas em suas malas de esperanças equivocadas partem para a folia. Alguns partem para lugares não muitos distantes para gastarem energia, dinheiro, e seu próprio querer em cinco dias. São dias alegres, dias sem regras, sem pai, sem hora para voltar. Dias de prazer, de glamour, de satisfação e de amores líquidos, rápidos, sem preocupações.  As máscaras estão desfilando a vida que cada um tem por aí, desejos reprimidos aparecem em forma de festejo. Todos podem ser tudo, não há escândalos, há somente celebração pessoal e coletiva. Dias floridos e de fartura, de gostosas bebidas, atraentes comidas, apetitosas mulheres, e saborosos encontros. Porém, depois de ter se consumido e ter consumido outros, sobrevêm grande fome no país, começa-se a passar necessidade. O filho mais novo aparentemente mais esperto, perdeu a serpentina e o rosto bonito, somente ficou as olheiras e cinzas da quarta-feira, a qual poderá durar o ano inteiro, até o próximo carnaval. Perdido e vazio em suas necessidades, ele se agrega a pessoas, lugares, e coisas que nada mais lhe oferecem a não ser comida de porcos. 

Neste momento ele possui duas opções, comer e se lamentar, se prendendo à ilusão e à idéia saudosista de que tudo vai se resolver, e com o tempo, o brilho, a fanfarra, a liberdade condicional voltará à sua avenida; ou ele pode cair em si, se lembrando de que até os empregados de seu pai, não se contentam com iludidas propagandas de uma vida de prazer sem custo. Daí ele pode se levantar, ir e dizer tudo ao Pai e assim receber perdão, verdade e realidade. Receber a liberdade que não passa, não engana, mas revela o verdadeiro prazer na Pessoa de Jesus. Enquanto isso, o irmão mais velho, filho de seu próprio conceito religioso fica em casa, com o irmão não se preocupa mais, ele fez suas escolhas. O irmão mais velho trabalhou arduamente por sua salvação e possui pseudo-autoridade para falar que o seu irmão pertence ao inferno. Quando ele descobre que seu irmão voltou e que havia festa por isso, ele se assusta, se escandaliza. A música, a casa cheia, as danças são sinônimos do profano, ele prefere não entrar na festa, não quer festejar com os santos que deixaram de ser pecadores, ele não quer se contaminar. Sai para seu próprio mundo e ali investe suas forças, energias, e idéias. Ele é amargo, reclama uma festa que ele não teve, uma diversão que lhe foi tirada, uma alegria reprimida. O Pai relata o seu coração cheio de afeição pelos dois e o quanto os ama. O Pai sente pela forma dolorosa de reconciliar seus relacionamentos, mas a dor não limita a bondade e a graça do cuidador. O final desta história, cada um de nós imagina e incorpora elementos e sentimentos que carregamos sobre misericórdia e obediência.  

Quantos esclarecimentos uma história bem contada traz. Ajuda-me a me colocar no lugar do outro, tanto do folião que pensa que sua vida se resume a um circo cultural bem animado, quanto ao religioso que quer agradar o Pai, porém o faz de forma ácida e infeliz. Quero poder ajudar os dois, porque constantemente me vejo querendo assumir ambos os papéis. Não quero julgar, quero ouvir. Não quero trazer mais guerra, mas gerar Paz. Não quero assustar, quero impactar com algo Novo. Não quero estigmatizar, quero agregar. Não quero entristecer, quero alegrar com a verdadeira Vida. Não quero libertinar, quero libertar-me de meus maus desejos. Não quero relativizar, quero unificar. Não quero carnavalizar, quero aproximar a carne do lugar de origem dela, de mãos dadas com minha alma voltada ao espírito que se apegou com amor ao Espírito do Deus Conhecido. Desejo amor para amar os filhos mais novos e os mais velhos, durante o Carnaval e fora dele. Você pode se juntar a mim. Olhar, opinar, confrontar, amar, abraçar, e orar pelos perdidos e pelos achados de nosso Pai.
Priscila Souza

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